Juízes da Comarca de Pedreiras criticam pacote anticorrupção

Coletiva sobre pacote anticorrupção/Foto:Sandro Vagner
Coletiva sobre pacote anticorrupção/Foto:Sandro Vagner

Para expressar suas indignações contra a restrição de liberdade e autonomia funcional dos juízes, nos projetos que estão sendo aprovados no pacote da anticorrupção, pelos deputados federais, os juízes Drª Larissa Rodrigues Tupinambá Castro (Titular da 3ª vara da Comarca de Pedreiras), Dr. Marco Adriano Ramos Fonseca (1ª vara) e Dr. Artur Gustavo (Juiz de direito), foi convocada uma coletiva de imprensa, realizada hoje (01) no auditório do Júri popular, no Fórum Desembargador Araújo Neto, em Pedreiras.

Foto: Sandro Vagner
Foto: Sandro Vagner

Drª Larissa Tupinambá foi a primeira a se manifestar. Segundo ela, a palavra que define tudo isso, é “decepção”.

Drª Larissa Rodrigues Tupinambá Castro - Juíza titular da 3ª Vara da Comarca de Pedreiras/ Foto: Sandro Vagner
Drª Larissa Rodrigues Tupinambá Castro – Juíza titular da 3ª Vara da Comarca de Pedreiras/ Foto: Sandro Vagner

O objetivo do ministério público, do poder judiciário, era exatamente aprovar  um pacote de combate à corrupção, e, o que nós recebemos foi um pacote de retaliação e intimidação. O juiz agora não tem liberdade, no exercício de sua função, por que essa desculpa, esse argumento, de que, o juiz como todo e outro qualquer cidadão  tem que ser submetido ao império da Lei, é uma desculpa que não pode vingar, por que nós estamos sujeitos a Lei. Todas as condutas do juiz, se ele incide a algum tipo de crime, ele vai ser processado e punido; ele não está acima da Lei, não está à margem da Lei, também. Nós temos a Corregedoria Geral da Justiça, nós temos o CNJ, pra apressar nossas ações; agora, o que a gente não consegue admitir, é que o juiz no exercício de sua função, tenha que se preocupar se vai desagradar alguém! que não é justo que um politico, ou um tribunal político venha julgar o juiz que está apreciando uma conduta irregular de um político corrupto; e, ai, neste processo, nesse projeto de Lei, você incrimina a denúncia temerária de qualquer do povo, esse conceito de temerário é muito subjetivo, e quem é que vai definir o que é um ato de improbidade administrativa? Nem o ministério público, nem o magistrado, eles podem emitir qualquer tipo de opinião em processo seu ou de outrem, que é mais grave, quer dizer, que, a população vai ficar desinformada, não vai saber o que está acontecendo, e, o juiz não tem a liberdade de julgar, por que se houver um condenação, e essa condenação de qualquer sorte, ela for reformada por um Tribunal Colegiado, ele está sujeita à sanção. Então, é isso que a sociedade não pode admitir, por que esse projeto, ele blinda a corrupção. E, não é isso, a gente está em outra era, em outro momento. Os políticos corruptos são os mais interessados neste projeto, na verdade eles querem agir em causa própria, uma tentativa, como já foi dito, de causar receio no juiz, do juiz ter medo de julgar; a questão é essa, e nós não podemos permitir que isso aconteça. Nós não queremos liberdade fora da nossa função, a gente que ter tranquilidade, independência nos julgamentos“. Disse a juíza.

Para o juiz titular da 1ª Varada Comarca de Pedreiras, Dr. Marco Adriano Ramos Fonseca, o pacote visa atingir o direito fundamental da sociedade ter um juiz, com o discernimento, com a sua convicção, plenamente manifestada no processo.

Juiz Marco Adriano Ramos Fonseca - Titular da 1ª Vara da Comarca de Pedreiras/Foto: Sandro Vagner
Juiz Marco Adriano Ramos Fonseca – Titular da 1ª Vara da Comarca de Pedreiras/Foto: Sandro Vagner

A partir do momento que se cria uma conduta ilícita, um tipo penal, um crime praticado pelo juiz, pelo fato da decisão dele ter sido revista pelo tribunal, ele ser criminalizado; é algo manifestamente repudiado. Então, todos nós juízes, os membros do Ministério Público, repudiam essa tentativa de diminuição do judiciário. Acredito que a resposta maior que nós queremos dá, é justamente continuar julgando os processo com a mesma independência, com a mesma liberdade, e, com a mesma convicção. Nós somos juízes, não por uma vaidade, mas, acima de tudo, por uma vocação! Nós escolhemos, nós nos dedicamos anos a fio, estudando para sermos aprovados num concurso público. Investimos numa função que é um dos três poderes da república. O quê que a sociedade vai ter que refletir? Está sendo ferido a separação dos poderes, e, acima de tudo, está sendo ferido, o valor máximo da magistratura, que é a independência funcional. Então, a partir que se cria uma estratégia dessa natureza, a sociedade tem que refletir: Quem está criando esse pacote de medidas, contra os magistrados e contra o Ministério Público? São justamente, parlamentares que são alvo de processos judiciais. Cabe a nós, do judiciário, continuarmos sendo incisivos, por que nós estamos sendo hoje, alvo de retaliação, é por que nós estamos no caminho certo. Nós estamos trabalhando, nós estamos incomodando, e, acima de tudo, mostrando pra sociedade, que justiça não é só pra prender ladrão de celular! justiça é pra punir quem rouba, quem furta os sonhos, quem furta a educação do nosso país, e, quem furta a saúde. Nós somos um país rico. Um país que tem no judiciário e no ministério público, a sua esperança. Então o que a gente diz pra sociedade, que não percamos a nossa última esperança. Que nós nos unamos, unamos forças, que fortaleceremos  o judiciário, mostrando uma postura para os parlamentares que se convençam, de que a sociedade, ela não está alheia, não está de olhos vendados, e, acima de tudo; com os braços amarrados“. Falou o juiz Marco Adriano.

Dr. Artur Gustavo - Juiz de Direito/Foto: Sandro Vagner
Dr. Artur Gustavo – Juiz de Direito/Foto: Sandro Vagner

“A única forma que a gente pode provocar a população, é da forma que a gente está fazendo, que é através da conscientização. Os parlamentares que lá estão, movendo esses projetos, são representantes do povo, e, é preciso que os eleitores tenham uma consciência, que os seus procuradores, que seus deputados, seus senadores estão fazendo, realmente, em prol ou contra esse país; em prol da população ou em prol deles. Toda nação desenvolvida tem que ter um judiciário e um ministério público independente, para que, não apenas as pessoas mais simples, as pessoas com menos acesso à defesa, sejam presas, mas também, toda sorte de pessoas em todas as esferas, caso cometam crimes, sejam processadas e responsabilizadas. Todos nós somos responsáveis e não estamos imunes a sermos processados, ou, até mesmo, presos pela prática de crimes, seja no exercício da função ou fora da função. Além disso, por conta do nosso trabalho, nós estamos sujeitos, sim, à fiscalização popular; existe uma ouvidoria no âmbito dos tribunais, existe a corregedoria dos tribunais de justiça, e,  o próprio CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Independendo da situação, há inúmeros casos de condenados, não só no Estado do Maranhão, mas no Brasil a fora, envolvendo magistrados promotores. Nenhuma instituição é perfeita, o problema é sempre do ser humano“. Disse o juiz Artur Gustavo.

Dr. Artur, Drª Larissa Tupinambá e Dr. Marco Adriano/Foto: Sandro Vagner
Dr. Artur, Drª Larissa Tupinambá e Dr. Marco Adriano/Foto: Sandro Vagner

Os magistrados agradeceram a imprensa, uma grande parceira que sempre esteve à disposição de todos.

Deixe uma resposta