Pedreiras – TRAIR É QUEBRAR O SAGRADO – Pe. José Geraldo

Padre José Geraldo – Reitor do Santuário de São Benedito

TRAIR É QUEBRAR O SAGRADO

A madrugada me despertou com o toque insistente do telefone. Do outro lado da linha, uma voz aflita m e indagava: “O que é traição?” Ainda envolto no êxtase do maior bloco católico do Brasil, o Beneditando, sem hesitar, respondi: “Trair não é só beijar na boca. É flertar. É olhar com segundas intenções. É apagar mensagens. É mentir. Trair é fazer tudo aquilo que não foi combinado.”

Traição é mais que um ato — é uma fratura na confiança, um sussurro de falsidade onde deveria haver transparência. O próprio Cristo, no Jardim das Oliveiras, conheceu a dor do beijo de Judas, e ali se cumpriu a sentença do salmista: “Até o meu melhor amigo, em quem eu confiava e que partilhava do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.” (Salmo 41,9).

Mas a traição não habita apenas nos grandes gestos; mora nos detalhes sutis, nas entrelinhas do cotidiano. Está no olhar desviado, na promessa quebrada, na palavra omitida. Santo Agostinho nos alerta: “A confiança é um frágil castelo. Uma vez quebrada, suas ruínas são difíceis de reconstruir.”

Trair é ferir a aliança do coração, seja num casamento, numa amizade ou na fé. É dilacerar o que foi prometido diante de Deus e dos homens. O apóstolo Paulo advertiu: “Fugi da mentira e falai a verdade uns com os outros.” (Efésios 4,25).

E se pensas que trair é apenas a consumação de um ato, lembra-te das palavras de Jesus: “Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo no coração, já cometeu adultério com ela.” (Mateus 5,28). O pecado começa na intenção, na covardia de esconder o que deveria ser claro como a luz do dia.

Ah, a traição… Quantos se acham espertos ao esconder mensagens, ao apagar rastros, ao sustentar um sorriso falso diante de quem os ama! Mas esquecem-se de que há olhos que tudo veem, e ouvidos que escutam até os segredos sussurrados ao vento.

Nietzsche disse: “O que me magoa não é que tenhas mentido, mas que eu não possa mais acreditar em ti.” Eis o peso da traição: ela não destrói apenas um instante, mas corrói o futuro.

A verdade, ainda que doa, liberta. O segredo, ainda que pequeno, aprisiona. O amor exige lealdade, e a lealdade não é sobre perfeição, mas sobre compromisso. Ser fiel é manter o pacto, ainda que a tempestade venha, ainda que a tentação sussurre nos ouvidos.

Por isso, quem caminha com Cristo deve lembrar: “Seja o vosso ‘sim’, sim; e o vosso ‘não’, não.” (Mateus 5,37). Que sejamos íntegros, que sejamos fiéis. Não apenas nos grandes gestos, mas também nos pequenos detalhes onde a verdadeira lealdade se revela.

Por Padre José Geraldo Teófilo - Reitor do Santuário de São Benedito

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