
Acordei chorando!
Hoje acordei triste e chorei. Por mim, por outros, talvez por um país inteiro diante da desolação e do caos político em que se encontra. Mas se a realidade é triste, não podemos esquecer que a ferida só cura quando é limpa e recebe o remédio, que normalmente pode causar dor na sua manipulação. O problema da corrupção não pode definitivamente ser atribuído a um grupo que se encontra no poder e tão pouco como algo construído agora, ontem ou ainda nas últimas décadas. Não, tudo isso foi construído ao longo da história desse país por todos nós que, diante de uma realidade dura talvez aprendemos na vida diária a burlar as dificuldades e os problemas com o famoso jeitinho brasileiro.
O jeitinho brasileiro que corrompe a vida particular de cada um e depois de um tempo, um caos coletivo refletido nesse momento e comprometendo o futuro geral da nação. Não tenho gabarito para análises políticas e nem tão pouco nem de leve essa pretensão, apenas peço que analisemos por outra ótica os momentos atuais onde podemos dar um novo rumo a nossa história.
Sempre ouvi dizer que um povo tem o governo que merece, no entanto nesse momento as crianças, os idosos, deficientes físicos e todos aqueles que fazem parte dessa nação e que não possuem armas para atuar estão dependentes dos rumos de uma história escrita por todos nós cidadãos, empresários e trabalhadores que, de alguma forma acabamos definindo o futuro desse país.
O momento requer calma, comprometimento, atitude digna e coerente com os meios legítimos de se lutar por um país no mínimo mais decente para se viver. As redes sociais se tornaram um meio onde tudo viraliza com muita rapidez e infelizmente, vemos esse assunto ser manipulado e discutido de maneira infantil e inconsequente, através de charges e piadinhas que podem até aliviar a tensão com algumas risadas momentâneas, mas não podem mudar os rumos de nossa história. É deprimente ouvir, ver e ler um assunto tão sério sendo tratado de forma tão leviana; se a alegria é o prato de todo dia no cardápio do povo brasileiro não pode descambar para o descompromisso com a verdade e o resgate do respeito que esse povo merece.
Nesse momento não está vindo à tona a corrupção de políticos, de todo um partido ou de grupos empresariais importantes, está vindo à tona todo um comportamento de um povo que mesmo sendo trabalhador, alegre e hospitaleiro também comete as suas corrupções diárias quando fura uma fila, senta no assento reservado para idosos e gestantes no ônibus, molha a mão do funcionário público para ver o seu problema resolvido mais rapidamente, faz cópias com tinta e papel comprado com dinheiro púbico, usa carro com placa branca para pegar o filho na escola, quando não arruma um emprego onde nem vai para registrar o ponto; pois tem alguém que usa um dedo com silicone para burlar na hora do registro as impressões digitais de quem nem foi um dia sequer do mês.
Se o nosso país é promissor, é hora de pensarmos na sua construção de forma coletiva partindo do meu comportamento particular de cada dia. O problema da ética de um país começa em mim, com as mínimas atitudes do dia a dia e principalmente, quando concorro para todo um conjunto de costumes e hábitos formadores de um caráter de um povo. E se o povo brasileiro também tem a fama de ser um povo religioso e preocupado com a sua postura de cristão, por que não começar a pensar nas atitudes diárias onde a minha religião é o meu dia a dia e o comprometimento com a ética e com a verdade?
Pois num país onde se carrega dinheiro em malas e às escondidas, talvez apenas se trocaria seis por meia dúzia quando se trocasse um político envolvido em corrupção por um de nós pobres mortais, porque na verdade talvez não nos apareceu a mesma oportunidade escancarada, nua e crua. Muitos não compreendem o holos, o todo, porque se nesse momento lutamos por um país digno, a dignidade de um povo começa com a consciência de cada brasileiro, contribuindo para o combate da corrupção modificando seus próprios hábitos, pois atualmente a normalidade se refere à liberdade da prática, por se tornar hábito ou rotina da maioria.
Penso que chegou a hora de olhar com mais comprometimento e com mais seriedade que de costume, para a mudança do Brasil, onde as atitudes descompromissadas e violentas verbalizadas nas redes sociais, utilizando de imagens e nomes de uns e de outros sejam substituídas por atitudes mais maduras e sensatas. Se não podemos mudar do dia para a noite uma realidade tão triste como a que estamos vivendo, que possamos ao menos não alimentar essa cultura do palavrão e do vandalismo com os assuntos e os bens públicos. O que não é de ninguém é de todos nós. Cultivemos atitudes assertivas começando por olhar para nós mesmos e não difundirmos as ideias de que somente a violência, seja ela de que forma for utilizada é a única linguagem conhecida para se resolver o problema do Brasil.
Que as manifestações continuem de forma cidadã, que as opiniões sejam colocadas e discutidas, mas com respeito, pois quem não perde oportunidades para se dar bem, como se dizia nos anos 70 quando se criou o jargão “tenho que levar vantagem em tudo, certo?” Há que se refletir que o momento atual pede um amadurecimento de uma consciência coletiva, mas que começa com o amadurecimento individual. Que o desejo da vantagem pessoal seja paulatinamente substituído por um desejo de se cuidar do país, como sendo nosso e da responsabilidade de cada um de nós.
E para finalizar o assunto, num país onde se vota no candidato para se conseguir um emprego ou cargo comissionado para um filho ou um parente qualquer, é de se esperar que se encontre realmente do jeito que está. Como a vida é movimento, resta saber como nos movimentar lembrando de um Gandhi, que conseguiu libertar a Índia do julgo inglês com a bandeira da “não violência” e com a bandeira do faça a sua parte da forma mais ética e madura possível, pois o coletivo se constrói com o pessoal e único de cada um, mas sem sermos individualistas.
Rosana Manso