Brasil: Justiça concede prisão domiciliar a João de Deus por posse ilegal de arma, mas ele seguirá preso por violação sexual

Médium diz ao MP que não se lembra das mulheres que fizeram denúncias — Foto: Reprodução/JN

O Tribunal de Justiça de Goiás concedeu a prisão domiciliar para o médium João de Deus pelo crime de posse ilegal de arma de fogo. Na casa dele, em Abadiânia, foram apreendidas seis armas e R$ 1,6 milhão. Porém, ele continuará preso suspeito de violação sexual.

Segundo o juiz Wilson Safatle Faiad, a prisão domiciliar só será concedida mediante pagamento de fiança no valor de R$ 1 milhão, uso de monitoramento eletrônico e “se por outro motivo não estiver preso”.

  • Entenda os rumos da investigação

O médium ainda aguarda o julgamento do habeas corpus com relação aos crimes sexuais, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). A fiança com relação ao crime de posse de arma deve ser paga também para que João de Deus deixe o presídio. Caso ele não pague e o órgão federal conceda a liberdade, mesmo assim ele não poderá deixar a unidade.

O magistrado também impôs outras condições para concedera a prisão domiciliar: entregar o passaporte, comparecer a cada 15 dias à Justiça e proibição de se ausentar do endereço que ele informar como residência fixa.

O advogado do médium, Alberto Toron, declarou que a decisão aplicou o princípio da “dignidade humana impondo meios menos invasivos de controle a um homem doente e com 77 anos de idade, mas com igual segurança para a sociedade”.

João de Deus está preso desde o dia 16 de dezembro, quando se entregou à Polícia Civil. Ele está detido no Núcleo de Custódia do Completo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde dorme sozinho, mas passa o dia em uma cela com outros quatro presos.

A defesa do médium pediu a soltura dele pelos crimes sexuais ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) – ambos negaram o habeas corpus em caráter liminar. Portanto, o pedido foi feito a Supremo Tribunal Federal (STF), que não havia decidido até a madrugada desta quinta-feira (27). A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se posicionou contra a soltura de João de Deus.

Investigações

Nesta quinta-feira (27), uma mulher prestou depoimento ao Ministério Público informando ter sido vítima do médium. Ao todo, a instituição já ouviu 79 mulheres e recebeu mais de 600 notificações de abusos sexuais.

Os promotores preparam uma denúncia contra João de Deus por estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude.

“O MP está trabalhando nesse momento na produção da primeira denúncia que será oferecida. Essa denúncia, além de envolver o fato dessa vítima concluída pela Polícia Civil, abarcará também outras três vítimas que estão incluídas no procedimento de investigação criminal conduzido pelo MP”, explicou a promotora Gabriella Clementino.

O documento deve ser entregue à Justiça no máximo até domingo (30), prazo legal estabelecido já que o médium está preso preventivamente. A promotora disse à TV Anhanguera, no entanto, que pretende entregar a denúncia até sexta-feira (28).

“Nós já temos trabalhos concretos, que identificaram provas suficientes para oferta de denúncias”, acrescentou.

Sobre essa denúncia, a defesa do médium explicou que aguarda serenamente a apresentação para só então se manifestar.

A Polícia Civil pretende ouvir novamente João de Deus, preso suspeito de abuso sexual, após analisar os materiais apreendidos na casa do médium e também no centro onde ele fazia atendimentos espirituais, em Abadiânia. Nos locais foram encontradas documentos, armas, pedras preciosas e R$ 1,2 milhão dinheiro, inclusive estrangeiro. Ele sempre negou as acusações feitas por diversas mulheres.

Segundo o delegado Valdemir Pereira, titular da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), unidade que coordena as investigações sobre esse caso, a corporação ainda faz perícia em todo o material, inclusive plantas dos imóveis e deve questionar o médium sobre esses itens.

“Temos as plantas, mas ainda temos que ver quando esse porão foi construído, se ele que mandou construir já com porão, se comprou a casa já com esses espaços, quais os objetivos, tudo isso vai ser periciado primeiro para então ouvi-lo. Ainda não há uma data para que isso aconteça”, explicou.

O delegado explicou ainda que são investigadas também outras questões, mas disse que não podia dar detalhes para não atrapalhar as investigações.

Até o momento, a polícia já ouviu 16 mulheres que relataram terem sido abusadas pelo médium durante atendimentos espirituais. João de Deus foi indiciado por um dos casos.

Situação atual

  • João de Deus está preso desde o dia 16 de dezembro;
  • Médium é investigado por estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude e posse ilegal de arma;
  • Defesa teve dois habeas corpus pelos crimes sexuais negados e foi ao STF; Jutiça concedeu prisão domiciliar por posse de armas;
  • MP recebeu mais de 600 emails pelo endereço denuncias@mpgo.mp.br e identificou cerca de 260 vítimas em seis países;
  • Mulheres que denunciaram João de Deus ao MP tinham entre 9 e 67 anos ao serem abusadas, conforme relatos;
  • Polícia Civil colheu depoimentos de 16 mulheres. Um inquérito foi concluído e há oito em andamento;
  • Em operações em endereços ligados a ele foram achadas armas, pedras preciosas e mais de R$ 1,6 milhão;
  • MP e polícia também querem apurar denúncia de lavagem de dinheiro;
  • Não há pedido para suspensão do funcionamento da Casa Dom Inácio de Loyola, mas laboratório que fazia medicamentos no local foi interditado;
  • João de Deus prestou depoimento para a Polícia Civil, quando foi preso, e ao MP-GO, dez dias após sua prisão;
  • Esposa do médium foi ouvida pela Polícia Civil e disse que não sabia de crimes.

fonte: g1.globo.com

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