
A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira (15) oito pessoas ligadas a uma rede de doleiros e de lavagem de dinheiro que, segundo as investigações, tinha uma complexa e organizada estrutura para lavar o dinheiro do tráfico internacional de drogas.
A Operação Efeito Dominó indica que esse sistema criminoso estava a serviço de Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, também conhecido como o “embaixador do tráfico” e e apontado pela PF como o maior narcotraficante do Brasil e um dos maiores do mundo.
A operação desta manhã é um desdobramento da Operação Spectrum, que prendeu Cabeça Branca em julho de 2017. Após sua prisão, a PF analisou documentos, planilhas eletrônicas, depoimentos e informações de inteligência para identificar a rede de doleiros que ele utilizava para lavar o dinheiro oriundo do comércio nacional e internacional de drogas.
Planilhas eletrônicas encontradas pela PF ao longo da investigação sobre Cabeça Branca indicam que, apenas entre 2014 e 2017, ele negociou 27 toneladas de cocaína e que ele teria recebido pelo menos US$ 138,2 milhões, o equivalente, em valores atualizados, a quase R$ 500 milhões.
A operação desta terça-feira faz parte de uma nova abordagem da PF em relação ao narcotráfico: sufocar o braço econômico das organizações. As investigações uma enorme rede de doleiros que se comunicam para dar vazão à demanda de clientes que ganham dinheiro ilegal em atividades criminosas diferentes como corrupção e tráfico de drogas.
Em geral, os doleiros atuam de duas formas. Recebem reais em espécie no Brasil e disponibilizam dólares em contas no exterior ou recebem dólares no exterior e disponibilizam reais em espécie no Brasil. Todas essas operações são realizadas sem a devida comunicação às autoridades bancárias e fiscais dos países envolvidos.
Nas investigações, a polícia verificou também a atuação de dois doleiros já conhecidos em operações anteriores, como a Farol da Colina (caso Banestado) e a Lava Jato.

Carlos Alexandre Souza Rocha, o Ceará, já havia firmado um acordo de colaboração premiada na Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal serão comunicados sobre a prisão do réu colaborador para avaliar as consequências da quebra do acordo. Na sua delação, o doleiro disse ter feito repasses para políticos como os senadores Aécio Neves (PSDB), Renan Calheiros (MDB), Fernando Collor de Melo (PTC) e Randolfe Rodrigues (Rede). Ceará atuava junto ao doleiro Alberto Youssef. Em seu acordo de colaboração, ele disse que mantinha contato com Youssef por vender vinhos, relógios e joias.
A polícia agora entende que Ceará tinha dinheiro em espécie não em razão dessas atividades, mas sim em virtude de trabalhar para o tráfico de drogas. Ele encabeçava um dos núcleos da rede investigada pela PF.
“O criminoso que vai receber propina não vai perguntar: ‘Isso é do tráfico de drogas?’. O dinheiro sujo não tem origem nem dono, usa-se para fazer o que precisa ser feito no mundo do crime”, afirmou Biasoli. “Eles são prestadores de serviço, especializados em remessa de dinheiro para o exterior.”
Outro doleiros alvo da operação é Edmundo Gurgel, que já havia sido preso em 2004. Os outros presos desta manhã faziam o papel de “maleiro” para os operadores ou de “laranja” para Cabeça Branca.
A polícia também cumpriu 18 mandados de busca e apreensão. Os mandados foram efetivados nos estados de Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e São Paulo. Os presos foram levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR).
LAVAGEM DE DINHEIRO
Luiz Carlos da Rocha está preso na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em abril deste ano, ele foi condenado pela Justiça Federal do Paraná a cinco anos e dois meses de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro relacionado à compra de uma fazenda em Mato Grosso.
Esta foi a primeira condenação de Cabeça Branca desde que foi preso. Ele ainda responde a outros processos na Justiça Federal. A PF diz acreditar que Cabeça Branca tenha comprado fazendas em Mato Grosso para servir de entreposto para a cocaína trazida da Bolívia e do Paraguai para o Brasil.
Segundo as investigações, a droga era trazida ao Brasil em pequenos aviões e descarregada nas fazendas do traficante. De lá, a droga era transportada em caminhões para a região Sudeste, de onde ela era enviada, principalmente, à Europa e América do Norte.
A polícia suspeita ainda que a compra de fazendas era apenas uma das formas encontradas por Cabeça Branca para lavar o dinheiro que ele ganhava com a venda de cocaína. Os investigadores já identificaram rastros da fortuna do narcotraficante em outros países além do Brasil e do Paraguai, onde ele seria o proprietário de empresas e fazendas.
O título de “embaixador do tráfico” atribuído a Cabeça Branca foi atribuído ao narcotraficante pela forma como ele se relacionava com fornecedores e compradores da droga que ele intermediava. Em vez de um perfil violento comum a traficantes que atuam na região da fronteira entre o Brasil e o Paraguai, Cabeça Branca era conhecido pelo perfil discreto com que conduzia seus negócios.
A operação desta terça-feira foi deflagrada e centralizada em Curitiba, mas as investigações foram conduzidas pelo GISE (Grupo de Investigações Sensíveis) da PF em Londrina.
Fonte: folhadesaopaulo.com.br