E o Oscar fez História. “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon-ho, tornou-se, na madrugada de hoje, a primeira produção em língua não inglesa a levar a estatueta de melhor filme. O longa que retrata o abismo social entre pobres e ricos no mundo de hoje, misturando drama, comédia, suspense e terror, também consagrou seu diretor e levou ainda os troféus de melhor filme internacional e roteiro original.
Num ano criticado pela baixa representatividade entre os indicados — brancos e homens, em sua maioria —, a vitória do longa asiático soou como redenção. Favorito ao prêmio principal, “1917” saiu da cerimônia com três estatuetas: mixagem de som, efeitos visuais e fotografia, para Roger Deakins.
O sul-coreano, que cativou espectadores ao redor do mundo — com o filme, mas também com sua personalidade sem afetação —, protagonizou um dos momentos mais bonitos da noite, ao dizer que gravou a seguinte frase em seu coração: “o mais pessoal é o mais criativo”. Depois, contou que a frase era de Martin Scorsese, seu concorrente na categoria. Foi aplaudido de pé.
Apesar da comoção ao redor de “Democracia em vertigem”, eleito um dos melhores filmes de 2019 pelo “New York Times”, não foi desta vez que o Brasil trouxe para casa a estatueta dourada mais cobiçada do cinema mundial. O vencedor na categoria documentário foi “Indústria americana”, de Julia Reichert e Steven Bognar, produzido pela Higher Ground, empresa do ex-primeiro casal Barack e Michelle Obama, para a Netflix. O filme acompanha os bastidores de uma fábrica abandonada pela General Motors, em Ohio, que é adquirida por uma empresa chinesa.
Antes da cerimônia, ao passar pelo tapete vermelho, a diretora brasileira Petra Costa disse que seu filme é “uma carta de amor ao Brasil” e, junto com a equipe do documentário, fez um protesto, segurando cartazes que traziam frases como “parem de invadir terras indígenas” e “quem mandou matar Marielle?”, em português e em inglês.
No discurso de agradecimento, Reichert elogiou os concorrentes e disse “se sentir honrada por estar ao lado de irmãs e irmão documentaristas que arriscaram suas vidas para levar histórias até nós”, afirmou a documentarista de 73 anos, diagnosticada com um câncer terminal.
Se por aqui todo o barulho em torno de “Democracia em vertigem” se deu por conta da abordagem política da diretora, pesou na vitória da produção norte-americana o fator Obama. Foi um recado da Hollywood democrata para um país que inicia sua corrida eleitoral. E não foi o único.
Ao agradecer pelo prêmio de ator por “Coringa”, Joaquin Phoenix hipnotizou a plateia. “Eu, a vida inteira, fui uma pessoa egoísta, cruel no trabalho, e sou muito grato aos que me deram uma segunda chance”, desabafou. “Mudar em direção à redenção é o melhor da humanidade.”
As barbadas da noite
CONTINUA DEPOIS DOS COMERCIAIS
Phoenix foi uma das barbadas da noite, ao lado de Brad Pitt e Laura Dern, que levaram seus primeiros Oscars de atuação, como coadjuvantes, com “Era uma vez em… Hollywood” e “História de um casamento”, respectivamente; e Renée Zellweger venceu como atriz por “Judy”, cinebiografia em que encarna a lendária atriz Judy Garland — que, como ela lembrou, nunca ganhou uma estatueta como adulta, apenas um prêmio juvenil em 1940: “Quando celebramos nossos heróis, nós lembramos de quem nós somos como povo. Eu sei que Judy Garland não recebeu esse prêmio em vida, então isso é uma celebração ao legado dela”.
A cerimônia deste ano pareceu ter sido toda construída para limpar a barra da Academia . Desde o primeiro número musical, apresentado pela cantora Janelle Monáe, até a escolha da ativista Jane Fonda para entregar o prêmio principal , as mensagens ocuparam boa parte da festa. Janelle cantou, em alto e bom som, seus “parabéns às mulheres e queers” que compõem a indústria do cinema e apresentaram “produções incríveis”.
Depois, os comediantes Steve Martin e Chris Rock, ambos ex-apresentadores da festa, entraram atirando também no fato de o Oscar não ter mais “apresentador”. “A culpa é do Twitter”, disse Rock, lembrando que “todo mundo já tuitou alguma besteira na vida”. Uma frase que deve ecoar bastante na cabeça do ator Kevin Hart, cotado para apresentar a noite em 2019 e detonado dias depois por tuítes preconceituosos do passado descobertos nas redes.
Rock ainda alfinetou a ausência de talentos negros entre os indicados, em uma piada com Cynthia Erivo, única negra indicada ao prêmio de melhor atriz: “Cynthia, você fez um trabalho tão bom em ‘Harriet’ escondendo pessoas negras que a Academia te fez esconder todos os indicados negros”.
E logo após, ele e Martin engataram o próximo recado: “Você está sentindo falta de alguma coisa este ano?”, perguntou Rock; “Vaginas?”, brincou o comediante, lembrando mais uma vez a ausência de mulheres entre as indicadas a melhor direção.
Lista completa de vencedores
Ator coadjuvante
Brad Pitt, por “Era uma vez em… Hollywood”
Longa de animação
“Toy story 4”
Curta de animação
“Hair love”
Bong Joon-Ho e Han Jin Won, por “Parasita”
Roteiro adaptado
Taika Waitit, por “Jojo Rabbit”
Curta-metragem
“The neighbors’ window”
Figurino
Jacqueline Durran, por “Adoráveis mulheres”
Documentário
“Indústria americana”
Curta documentário
“Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)”
Atriz coadjuvante
Laura Dern, por “História de um casamento”
Edição de som
“Ford vs Ferrari”
Mixagem de som
“1917”
Fotografia
Roger Deakins, por “1917”
Edição
Michael McCusker e Andrew Buckland, por “Ford vs Ferrari”
Efeitos visuais
“1917”
Cabelo e maquiagem
“O escândalo”
Filme internacional
“Parasita”
Trilha sonora
Hildur Guðnadóttir, por “Coringa”
Canção original
“I’m gonna love me again”, de “Rocketman”
Direção
Bong Joon-ho, por “Parasita”
Ator
Joaquin Phoenix, “Coringa”
Atriz
Renée Zellweger, “Judy”
Filme
“Parasita”
Fonte: oglobo.globo.com