
Na sessão desta quinta-feira (21) na Câmara de Vereadores, a juíza titular da 3ª vara da comarca de Pedreiras, Larissa Rodrigues Tupinambá Castro recebeu Moção de Aplausos, de autoria da vereadora Ceiça, assinada pelos demais parlamentares.
O prefeito de Pedreiras Antônio França, e o Deputado Estadual Fábio Macedo participaram do ato. O reconhecimento através da Moção de Aplausos, e revelante ao trabalho de Assistência Social realizada pela juíza Larissa Tupinambá e sua equipe, que conta ainda com diversos parceiros da sociedade Pedreirense, trizidelense e limacampense.
No texto da comunicação da 3ª vara, ressalta, principalmente as ações voltadas às mulheres.
A ação “mulher é pra ser respeitada” consiste num esforço conjunto e concentrado orquestrado pelo Judiciário para permitir a conscientização da sociedade; retirar a violência de gênero da esfera privada e familiar, trazendo para o debate público; sensibilizar os homens; empoderar as mulheres, resgatando a autoestima; informar acerca dos direitos e serviços disponíveis na legislação, uma vez que a punição isolada não tem ajudado na prevenção nem na compreensão da situação. A prática está em execução desde 2016. No ano próximo passado teve lugar na praça do Goiabal, no município de Pedreiras. Este ano aconteceu no município de Trizidela do Vale, termo judiciário, na Praça da Baixada, com estrutura bem mais complexa e diversificada. A ação inova pela quantidade de atividades que engloba, pela diversidade de atores envolvidos e pessoas atendidas. Concentra num mesmo espaço palestras, serviços médicos, odontológicos, expedição de documentos, assistência jurídica, orientação psicológica, nutricional, fisioterapia, beleza, mini cursos, apresentação de teatro, espaço lúdico, oficinas de profissionalização, programação de lazer, engajamento das escolas municipais com orientação e trabalho anterior e elaboração de desenhos envolvendo a temática com premiação dos 3 primeiros lugares. O envolvimento da comunidade é real desde a abertura até o encerramento. São 3 dias intensos, com repercussão positiva e duradoura, além de frutos permanentes.

Durante seu discurso de agradecimentos a juíza Larissa Tupinambá destacou a importância do título.
Veja na íntegra o discurso da magistrada.
Bom dia a todas e a todos.
É com muita emoção e agradecimento que recebo esta moção de aplauso em reconhecimento a um projeto tão lindo “mulher é pra ser respeitada” que nasceu no meu coração, mas que hoje foi adotado por todos de Pedreiras, Trizidela e Lima Campos, por todas as pessoas de bem que repudiam qualquer forma de violência contra a mulher, que não suportam o machismo que destrói, a discriminação que estigmatiza, a humilhação que diminui, a ofensa que maltrata, a pancada que dói no corpo e dilacera a alma. Que agride não só a mulher, mas que machuca os filhos, atinge toda a família e macula os melhores valores de uma sociedade digna e justa.
O aumento dos crimes envolvendo a mulher como vítima, executados, via de regra, dentro de sua casa, onde ela deveria achar proteção e cuidado, consumados, quase sempre, por maridos, companheiros, conviventes e namorados, de quem se espera afeto e aconchego, sempre me inquietou. Percebi que a repressão pura e simples não era o caminho para reverter este quadro. Pensei na prevenção e na articulação organizada da rede de proteção. Quis reunir todos num grito uníssono e forte, num brado firme, potente e intenso que ecoasse todo repúdio a desigualdade sexual que estimula relação violenta entre homes e mulheres. Sonhei em ver a cidade vestida de lilás, cor da nossa campanha, respirando em cada canto toda indignação e esperança que nos motiva em busca de uma realidade diferente.
E, qual não foi a felicidade quando percebi que as minhas expectativas foram superadas. Bati de porta em porta e nunca recebi um não. De palavras de apoio e incentivo, as mais diferentes contribuições, tudo foi muito bem vindo. Alguns ofereciam seu tempo, outros sua força de trabalho, muitos o recurso necessário, mas todos, absolutamente todos, apregoaram o seu desejo de ser parte desta corrente do bem, desta união espontânea e natural, pensada e refletida, fundada e aparelhada para espalhar sentimentos bons, humanidade, respeito e solidariedade.
Iniciamos tudo no ano de 2016. A praça do Goiabal foi o cenário. Em 2017, a Baixada, em Trizidela, tão esquecida e sofrida nos acolheu. O palco adornado pela emoção mais sincera, reuniu nossos artistas e seus talentos. A terra de João do Vale mostrou a força da sua festejada tradição. A mulher foi decantada e exaltada. A ternura e força feminina foram o roteiro e inspiração. Canções, ballet, capoeira, teatro, poesias, exposição, danças tradicionais, enfim, cultura a serviço da causa, arte vigorosa, veia pulsante contra qualquer força bruta, em repulsa a todo ataque e agressão contra a mulher.
A cidadania também foi preocupação. Estivemos na capital para possibilitar a integração e participação do Viva no projeto. Os cartórios de registro público também se colocaram a disposição. Assim, mulheres sem existência civil ou desprovidas de qualquer documento que lhe afirmasse como gente, puderam ter sua certidão, identidade e CPF, dando início a uma nova trajetória marcada pela consideração a sua individualidade e personalidade.
A OAB e Defensoria emolduraram esta rede cidadã. Advogados e defensores se revezaram para garantir atendimento gratuito e de qualidade. Sabemos que várias mulheres permanecem na relação violenta não por conivência, mas sim pela dificuldade de renunciar aos vínculos existentes e pela insegurança em relação ao futuro próprio e ao dos filhos. Garantir a esta mulher um divórcio lícito, com partilha honesta de bens, a pensão adequada a suas crianças, a medida protetiva, a separação de corpos, significa permitir que a liberdade sonhada se torne um fato palpável, que a aspiração se converta em feliz realização, e não permaneça como quimera inalcançável e inacessível.
O atendimento médico não foi esquecido. A carreta da mulher com mamografia, preventivo, exames laboratoriais, aferição de pressão e testes rápidos foi parceira indispensável. Enfermeiros voluntários, nutricionistas e fisioterapeutas abnegados, médicos e dentistas compromissados, deixaram todos os seus afazeres e se juntaram a esta corrente do servir. Quanta humildade se aprendeu nestes dias. Acredito, sem demagogia, que a chave da felicidade está no partilhar. Não é preciso grandes obras ou investimentos para ajudar quem precisa. Dividir um sorriso é muitas vezes o suficiente para mudar o dia de alguém, o mundo de alguém. Trabalhar em prol do próximo é querer iluminar o viver desta pessoa com gestos simples, é tirar um tempo da nossa rotina corrida e se colocar a disposição, afastando as pedras das dificuldades e o ressentimento do coração. É maravilhoso poder executar o que muitos se recusam a fazer. Nós fizemos. Fomos melhores do que qualquer desculpa, mais potentes do que o maior obstáculo, maiores do que a pior dificuldade.
Alunos irmanados, colaboradores reunidos permitiram que oficinas de profissionalização fossem montadas e que, as vítimas, antes sem perspectivas ou possibilidades, entendessem o quanto são úteis, o tanto que ainda podem aprender, como são importantes e de que forma podem abandonar a desesperança e experimentarem nova chance de crescimento e desenvolvimento. Não foram trufas de chocolate, tiaras, pintura ou artesanato o que se viu. O que se viu foi o resgate da fé e da confiança em si e no outro.
O lazer, antes tão distante e a autoestima já tão comprometida foram resgatados. Tendas com cabeleireiros, manicures, esteticistas e maquiadores coloriram a praça. A beleza pediu passagem e nós concedemos. Desfilou numa passarela linda, onde os refletores iluminavam, não uma roupa ou acessório, mas sorrisos sinceros de paz interior e de convicção de que muitos se importavam, de que não estavam sozinhas, de que a trajetória de cada uma envolvia a todas e todos ali, de que tinham mãos para segurar no novo percurso que quisessem trilhar.
E assim foi…e assim é.
O núcleo de reflexão para os homens agressores que hoje existe, as palestras no terço dos homens, nos sindicatos, no presídio, o pelotão das mulheres no desfile cívico, o julgamento célere e a resposta eficaz aos feminicídios consumados, demonstram que nós não cansamos, não desanimamos e que desistir nunca foi uma opção.
Onde uma mulher for ultrajada, humilhada, diminuída, vilipendiada, agredida, nós agiremos. Com o fervor do combatente que acredita na sua luta, com a garra do guerreiro que sabe que sem o primeiro passo nenhuma longa caminhada se constrói. Eu creio na humanidade. Creio em dias melhores. Creio na fraternidade e na solidariedade. Creio na justiça e, acima de tudo, na união. A União que faz a força. A força que traz a vontade. A vontade que conduz a esperança. A esperança que abarca a paz. A paz que origina a sabedoria. A sabedoria que conduz ao amor e… o amor que liberta a consciência.
Termino as minhas palavras com um trecho da canção da mulher latino americana:
“Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei sonhar
Que meu nome é mulher
Descreve meus olhos
Meu corpo, meu porte
Me diz que sou forte, que sou como a flor
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita e sou feita de amor
Descreve a beleza da pele morena
Me chama de loira, selvagem, serena
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita e sou feita de mel
Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei sonhar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher
Descreve a tristeza que tenho nos olhos
Comenta a malícia que tenho no andar
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita na hora de amar
Descreve as angústias da fome e do medo
Descreve o segredo que eu guardo pra mim
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita, qual puro jasmim
Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher
Descreve também a tristeza que sinto
Confesso não e minto que choro de dor
Tristeza de ver humilhado meu homem
Meus filhos com fome, meu lar sem amor
Descreve, seu moço, a mulher descontente
De ser objeto do macho e senhor
Descreve este sonho que levo na mente
De ser companheira no amor e na dor
Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher”
Muito obrigada!