Rio: Vasco vira sobre o Flu nos acréscimos e vai à final contra o Botafogo

Fabrício comemora o gol da virada do Vasco sobre o Fluminense – Alexandre Cassiano / Alexandre Cassiano/Agência O Globo

O protagonismo no futebol nem sempre é daquele que faz partidas irretocáveis. Não é preciso ser o gênio, nem o mais equilibrado psicologicamente durante os 90 minutos (e os devidos acréscimos) para obter o heroismo. É necessário um instante de lucidez, um momento que, quem sabe, entre para a história. Estar no lugar certo e tomar a decisão adequada foi o suficiente para o lateral-esquerdo Fabrício. Um chute quase sem ângulo jogou por terra uma atuação ruim, admitida pelo próprio jogador, e trouxe a virada para o Vasco em um clássico contra o Fluminense, colocando o cruz-maltino na final do Carioca.

O gol que deu ao Vasco a vitória por 3 a 2 no Maracanã coloca o time de Zé Ricardo em condições de brigar com o Botafogo, nos próximos dois domingos, pelo título Estadual.

— Amassei a bola hoje. Tava jogando mal o jogo inteiro. Mas eu sei que vontade, garra e determinação não podem faltar. A equipe está de parabéns, é sofredora, batalhadora. Eu olhei para dentro da área e pensei: vou bater cruzado — explicou o lateral-esquerdo, referindo-se ao fatídico lance aos 49 minutos do segundo tempo.

O desfecho do Carioca tem os campeões da Taça Guanabara (Flamengo) e da Taça Rio (Fluminense) fora da decisão da competição. Uma obra do regulamento, assinado por todos os participantes.

Duelo tático

O Fluminense, que tinha a vantagem do empate, vendeu caro a derrota. Foi um jogo intenso, com mudança de domínio ao longo da partida e um duelo tático que começou já nas escalações. Como o jogo tricolor depende muito do que acontece nas extremidades do campo, Zé Ricardo resolveu matar a saudade de escalar dois laterais pela direita — Rafael Galhardo e, como meia, Yago Pikachu. Foi o antídoto do treinador cruz-maltino para neutralizar um dos destaques tricolores na temporada, Ayrton Lucas. Especialmente no primeiro tempo, deu certo. O Vasco conteve a volúpia tanto de Gilberto quanto de Ayrton, ainda que o ala-esquerdo tenha conseguido um bom chute (com o pé direito).

A escalação dobrada de laterais ainda deu certo porque foi Pikachu o artífice do primeiro gol vascaíno. Em um raro momento de atuação pela esquerda, ele partiu para o drible sobre o volante Richard, conseguiu uma caneta seguida por um cruzamento. O zagueiro Renato Chaves afastou de forma tosca e deu um presente a Giovanni Augusto, que voltou a jogar após um mês no departamento médico. Por “educação”, o meia aceitou de bom grado a entregada do zagueiro e abriu o placar.

O gol deu uma chacoalhada no Fluminense, que até então tinha dificuldades para criar, defendia-se mal e não estava achando espaço na marcação vascaína. O caminho mais natural foi apurar a articulação pelas pontas. Como o lado de Gilberto estava menos congestionado, já que a dobradinha dos laterais freava Ayrton Lucas, o tricolor passou a levar perigo pela direita. Em um desses lances, o camisa 2 tricolor deixou Fabrício na saudade apenas com o jogo de corpo. Ginga pura. A ida à linha de fundo deu condição a um cruzamento preciso para Pedro. O atacante do Fluminense limitou-se a dar um tapa na bola, empatar o clássico e fazer reverência à torcida pela sétima vez no Carioca-2018: ele é o artilheiro do Estadual. A fase é ótima.

Se sofrer o primeiro gol trouxe o Fluminense para o clássico, com o Vasco aconteceu o inverso. O time se perdeu, ficou mais desorganizado e viu o rival crescer de produção — agora não só nas investidas pela ponta, mas também na criação de espaços pelo meio. Sornoza passou a distribuir o jogo e, já no segundo tempo, fez o gol da virada em uma cobrança de falta. O equatoriano não obedeceu o manual, não pegou “na veia”. Nem precisou. O chute despretensioso ganhou caminho livre no meio da barreira do Vasco, que abriu. Martin Silva, coitado, só pôde lamentar e ficar estático ao ver a bola triscar a trave direita e morrer na rede.

Precisando da virada, o Vasco ficou mais arrojado. Zé Ricardo desistiu da dupla de laterais e sacou Rafael Galhardo para colocar Ríos. Além disso, Wagner saiu para a entrada de Paulinho. Foi a substituição que recolocou um tempero na partida, já que o jovem atacante vascaíno fez uma ótima jogada individual perto da meia lua e acertou um chute no canto. Júlio César, que nesta quinta-feira não esteve tão bem quanto na decisão da Taça Rio, só olhou a bola entrar.

O empate deixou o jogo vivo. Paulinho não parou no chute do empate e passou a chamar mais a responsabilidade de articulação. Ao mesmo tempo, o Fluminense tinha no tabuleiro a chance de contra-atacar, sobretudo quando o setor de ataque ganhou fôlego novo com a entrada de Pablo Dyego.

Como o futebol tem muitas ironias. O esforço vascaíno até o último minuto foi recompensado e quem vestiu a armadura de herói foi Fabrício, aquele mesmo que falhara no primeiro gol tricolor. O Fluminense vai precisar lidar com a amargura, enquanto o Vasco embala na busca pelo título. Ainda que por motivos diferentes, ninguém deve ter dormido direito.

Fluminense 2 x 3 Vasco

Fluminense: Júlio César, Renato Chaves, Gum e Ibañez; Gilberto, Richard, Jadson, Sornoza (Douglas) e Ayrton Lucas; Marcos Júnior (Marlon) e Pedro (Pablo Dyego).

Vasco: Martín Silva, R. Galhardo (Andrés Ríos), Paulão (T. Galhardo), Erazo e Fabrício; Desábato, Wellington, Wagner (Paulinho) e Giovanni Augusto; Pikachu e Riascos.

Gols: 1T: Giovanni Augusto aos 26 e Pedro aos 38; 2T: Sornoza aos 3, Paulinho aos 24 e Fabrício aos 50.

Juiz: Rodrigo Nunes de Sá.

Cartões amarelos: R. Chaves, R. Galhardo, Ibañez, Marcos Júnior, Paulão, Fabrício, Wellington, Richard, Pablo Dyego e Erazo.

Público pagante: 18.999 (21.788 presentes).

Renda: R$ 580.325,00.

Local: Maracanã.

Fonte: oglobo.com.br

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