Um mês após as denúncias de abuso sexual e estupro contra o médium João Teixeira de Faria, conhecido comoJoão de Deus , e sua prisão , o Ministério Público investiga novo caso de abuso sexual em ambiente religioso. O GLOBO ouviu homens e mulheres que frequentavam sessões tântricas organizadas por Diógenes Mira, de 39 anos, também conhecido como Ananda Ramana Das ou Ananda Joy. Três mulheres decidiram denunciar o especialista em terapia tântrica e yoga na Justiça. Ele nega todas as acusações. As promotoras da força-tarefa do MP deixaram aberto um canal para quem quiser denunciar ([email protected]).
Quatro mulheres revelaram à reportagem que, entre 2009 e 2015, sentiram-se coagidas — seja pelo discurso espiritual, seja pela força física — a fazer sexo com o guru. Seus relatos são publicados aqui na íntegra, com autorização mediante acordo de proteção de identidade. Os nomes usados para identificar as vítimas são fantasiosos, para que elas não sejam reconhecidas.
O líder espiritual mantém um instituto de estudos religiosos e místicos em Piracicaba, interior de São Paulo, onde ministra cerimônias tântricas usando o chá ayahuasca — também conhecido como Daime. Cerca de 40 pessoas participavam a cada cerimônia ou reunião para leitura religiosa. Diógenes se diz um estudioso das “tradições religiosas e místicas do Oriente” e segue principalmente as leituras do tantra, filosofia de matriz indiana, com base em textos escritos entre os séculos VII e XV. Sozinhas ou abaladas por problemas de saúde e pessoais, as mulheres recorreram ao guru para superar seus “bloqueios” ou “atrasos espirituais”.
— O Diógenes entrou no quarto e começou a me acariciar. Falei repetidamente que queria tomar banho e descer para a sessão. Ele me deitou na cama, me segurou e tocou meu clitóris, contra a minha vontade. Ele me impedia de levantar e ignorava meus pedidos para parar. — lembra Isabela, que falou ao GLOBO sob sigilo, contando ter sido abusada dentro da casa em Piracicaba, fora do ambiente de cerimônias e sem o uso de entorpecentes. — Eu não conseguia passar por cima dele e sair. Mais de uma vez falei que não queria aquilo.
Denunciantes e testemunhas entrevistados pelo GLOBO explicam que, em casos de cerimônias individuais, Ananda dizia que seria feita uma “dança espontânea”. Elas se sentiam invadidas porque ele, sem tirar a roupa, ele esfregava seu corpo no delas com o pênis ereto. Uma das mulheres relata ter sido beijada sem consentimento em um desses “tratamentos”. Em cerimônias grupais fechadas, elas explicam que sabiam que haveria prática sexual, mas que Ananda não era claro sobre o que seria feito, nem obedecia aos limites de cada um, mesmo quando as pessoas afirmavam que não queriam fazer o que lhes era ordenado.
Desde dezembro, O GLOBO vem tentando contato com Ananda por meio de ligações telefônicas e mensagens virtuais. Nos dias 4 e 5 de janeiro, o guru recebeu e leu mensagens enviadas pela reportagem a seu celular. Em um aplicativo de mensagens, os recados foram recebidos e confirmados como lidos, mas não houve resposta. A equipe de reportagem foi, então, à casa de Piracicaba no dia 14 de janeiro, quando foi recebida por Ananda e sua mulher, Adriana Valverde, de 44 anos. O conteúdo da conversa no local não teve a publicação permitida, mas o líder espiritual confirmou ter recebido as mensagens anteriores.
Em nota enviada por sua advogada, Ananda afirma que “jamais, em qualquer consagração da qual tenha participado, coagiu pessoas a manter relações sexuais, sob argumento verbal ou de substância entorpecente”.
Fonte: oglobo.globo.com