
A Caixa Econômica Federal espera arrecadar ao menos R$ 15 bilhões com a abertura de capital de quatro de suas subsidiárias que atuam nas áreas de cartões, seguros, loterias e gestão de ativos. Em entrevista ao GLOBO, o presidente do banco, Pedro Guimarães, afirmou que essas operações estão previstas para ocorrer entre o segundo semestre de 2019 e o primeiro semestre de 2020. A primeira etapa, que envolverá a Caixa Seguradora e a Caixa Cartões, deve ser realizada entre setembro e dezembro deste ano. Já a Caixa Loterias e a Caixa Asset têm a abertura programada para o período entre janeiro e abril de 2020. Guimarães afirmou que a Caixa está disposta a emprestar recursos a estados em dificuldades financeiras que tenham o Tesouro Nacional como avalista. Ele também espera obter economia de R$ 3,5 bilhões cortando despesas.
A Caixa vai oferecer empréstimos a estados em dificuldades financeiras no novo programa de socorro que está sendo desenhado pelo governo federal?
– Se você tiver o aval do Tesouro Nacional, não tem problema nenhum. Se não tiver o aval do Tesouro, (o empréstimo) vai ser analisado pelos canais de risco de crédito da Caixa. Mas a gente nunca vai emprestar se (o pedido) não passar pelos crivos do banco.
– As pessoas estão satisfeitas. Fizemos uma oferta de ações do IRB num fundo no qual somos gestores. A demanda foi de mais de R$ 2,5 bilhões.
Como está o processo de abertura de capital das subsidiárias da Caixa?
Temos planos de fazer a abertura de capital das empresas de cartões, seguros, loterias e asset (gestão de ativos) ao longo do segundo semestre deste ano e do primeiro semestre do ano que vem. O processo está avançado. Já vou ter um road show das áreas de cartões e seguros em junho.
Qual é o cronograma das operações?
– Caixa Seguradora e Caixa Cartões, entre setembro e dezembro deste ano, e Caixa Loterias e Caixa Asset entre janeiro e abril do ano que vem. Vamos fazer uma oferta minoritária. E queremos envolver o varejo. Temos menos de 800 mil pessoas investindo em ações no Brasil. É menos de 0,4% da população. Nos países desenvolvidos, são 25%. Se a gente fosse parecido com a média desses países, seriam mais de 50 milhões de brasileiros investindo. Queremos aumentar o número de brasileiros que investem em ações.
É possível ter uma ideia do volume de recursos que essas operações podem gerar?
– No geral, a gente pode falar em R$ 15 bilhões.
O senhor já disse que vai devolver para o Tesouro todos os aportes feitos no banco por meio de um tipo de empréstimo, o Instrumento Híbrido de Capital e Dívida (IHCD). Já tem um plano de pagamento?
– Nosso plano é pagar os IHCD, um total de R$ 38 bilhões, em quatro anos. Os R$ 15 bilhões seriam usados para pagar isso. Primeiro, vamos fazer a abertura de capital das subsidiárias e depois uma oferta secundária de ações.
O cartão de crédito consignado foi outra medida anunciada na sua gestão. Já está pronto?
– Ele começa em abril. É uma base fundamental de crescimento para a Caixa. O segmento de consignado tem uma taxa muito menor. Com o cartão, você melhora muito a eficiência. Primeiro, o nosso público vai ser o funcionário da Caixa, depois o aposentado, o servidor público e, num terceiro momento, o funcionário de empresa privada.
A Caixa é o único gestor do FGTS e recebe R$ 5 bilhões para isso. Os bancos privados estão de olho nesse monopólio, não?
– Você recebe isso, mas tem custo. É preciso ver a operação como um todo, 100% do risco do crédito nas faixas do Minha Casa Minha Vida ficam com a Caixa. A gente tem quatro mil engenheiros para olhar todas as obras, nos 27 estados. Não vi bancos privados em Rondônia ou no Amapá, por exemplo. Não é justo que vá todo mundo para São Paulo e em Oeiras (Piauí), só a Caixa. Eu quero ser o gestor do FGTS, só que o gestor faz a gestão e o acompanhamento das obras no Brasil inteiro e não só nas capitais.
A transformação da Caixa em SA, conforme defendia Ana Paula Vescovi, ex-presidente do Conselho da Caixa, para melhorar a governança, ainda está nos planos?
– Isso não está em discussão. O foco agora é abrir o capital das subsidiárias, ter cada uma delas listada no Novo Mercado. A gente entende que o mercado é ótimo controlador e ajuda muito nessa questão da governança corporativa.
Como está o processo de revisão do crédito para grandes empresas?
– Em dois meses, já recebemos de volta mais de R$ 5 bilhões de empréstimo pagos, e nossa política é de não emprestar mais porque esse segmento não precisa da Caixa. Além disso, queremos securitizar. Ou seja, vamos transformar empréstimos em debêntures (títulos de dívida), a maioria em Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), e vendê-las no mercado de capitais. Estamos estruturando pelo menos R$ 2 bilhões de debêntures. Isso ajuda e é bom porque mercado secundário no Brasil é pequeno.
Medidas para cortar custos estão no radar? O senhor pretende reabrir PDVs, fechar agências, por exemplo?
– Existe um volume grande de despesas com contratos que precisam ser reduzidas. Após o vencimento desses contratos, eles serão renegociados em outras bases. Criamos um grupo de trabalho específico de redução de despesa. São contratos sem necessidade, que estão muito caros. Por exemplo, nós descobrimos que temos sete prédios na Avenida Paulista e 15 prédios em Brasília. A Caixa não precisa disso. Vamos buscar uma racionalização. A expectativa é reduzir as despesas em R$ 3,5 bilhões em dois anos. Isso é bem relevante e demonstra o tamanho da ineficiência que a gente encontrou.
E os PDVs?
– Isso é algo que a gente está discutindo. Mas não posso falar sobre isso por enquanto.
O senhor já completou todas as nomeações para as vice-presidências e diretorias? Qual foi o critério de escolha?
– A gente já fechou os vice-presidentes e os diretores. Mas os nomes ainda não foram anunciados porque têm que passar pela Casa Civil. O critério é mérito. No caso dos vice-presidentes, o processo passou por uma empresa internacional de headhunter. Os indicados passaram também por um comitê de avaliação interno e, depois, pelo Conselho de Administração. É um processo totalmente profissional, e as pessoas que foram escolhidas são excelentes.
Os quatro escolhidos no fim do governo do ex-presidente Michel Temer foram mantidos?
– Dos quatro, um é o vice-presidente geral do banco. Esse processo foi continuado. Outros oito foram escolhidos desde então. Alguns são da Caixa e outros não, mas todos com enorme experiência no mercado.
A Caixa já está totalmente adaptada à Lei das Estatais?
– A gente está dentro e eu entendo que precisamos ir além. Quando a gente for fazer a abertura de capital das subsidiárias, vamos buscar o máximo de governança possível. Essa abertura de capital, tanto no Brasil quanto fora, é uma demonstração de que a gente quer sempre melhorar a governança.
Temos a informação de que medidas tomadas na sua gestão desagradaram a funcionários da Caixa, como a revisão do balanço do banco. Como está lidando com isso?
– Em cada lugar que vou, sou recebido de maneira excelente. “No Caixa Mais Brasil” (espécie de road show que Guimarães faz pelo país), por exemplo, a gente sai na sexta-feira de manhã e faz reunião com todos os gerentes. Ouço todas as observações deles. À tarde, tem reunião com os políticos, governadores e prefeitos e, sábado e domingo, vou em várias obras sociais. Recepção melhor, impossível. As pessoas estão vibrando com as mudanças que estamos fazendo, inclusive as de gestão, de vice-presidentes, dos diretores, estão vendo a meritocracia.
O senhor está revisando os lucros apresentados nos balanços da Caixa em 2018. Há suspeita de que os resultados estão inflados?
– Não posso falar do balanço por causa das regras de governança. Até o balanço ser publicado, o presidente não pode falar. Isso é regra básica.
Fonte: oglobo.globo.com